quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A CAIXA PRETA DAS LOTERIAS,
por Milton Saldanha*

Num país com tanta corrupção, o Brasil, é lícito desconfiar de tudo. Principalmente quando se paga por algum produto ou serviço. O ex-governador Leonel Brizola, por exemplo, nunca escondeu sua desconfiança com as urnas eletrônicas, uma invenção brasileira. Por se tratar de uma caixa preta, portanto sem acesso aos interessados, e com os recursos tecnológicos de hoje, no campo da informática, quem pode garantir que ali não possa ser injetado algum tipo de programa, um vírus, que transforme, por exemplo, cada três votos do candidato X num voto para o candidato Y? 

No caso das loterias federais, o jogo de azar, constitucionalmente ilegal, mas no caso bancado pelo próprio governo federal através da Caixa Econômica Federal, não é de hoje que desperta desconfianças entre o público. Os famosos Anões do Orçamento, deputados federais que roubaram acintosamente, alegavam publicamente que tinham ganhado sucessivamente nas loterias. Não me lembro de alguma prova que tenha apresentado disso, mas fica implícito que tinham lavado dinheiro com esse artifício. Como? Eis uma pergunta que ficou sempre sem resposta. Raposas só comem galinhas, não costumam devorar outras raposas. Ou seja, seus pares nunca levaram a fundo as investigações, muito menos exigiram o ressarcimento aos cofres públicos dos valores de lá surrupiados.

Os sorteios das loterias são públicos e quase sempre documentados, ao vivo, por alguma TV. Além, ainda, de contarem com a presença de auditores, que avalizam a lisura de todo o processo. Antigamente, falava-se que algumas bolinhas eram molhadas antes, inchavam, e assim não passavam pelo estreito funil que conduz ao número premiado. Era uma hipótese, isso nunca foi investigado e nada ficou provado. Pergunta: de que material, hoje, são feitas as bolinhas? 

Mas a grande caixa preta não está no sorteio, que tudo indica ser realmente honesto. A grande caixa preta está no tempo que transcorre entre o sorteio e o anúncio dos vencedores. O que ocorre nesse período? Como são processados os resultados das apostas colhidas em todo o país? Por que esse trabalho não é também feito publicamente? Por que a equipe que processa isso não fica em confinamento, sem conhecer o resultado do sorteio até os segundos finais, quando não haveria mais tempo para qualquer tipo de fraude? E a ultima e principal pergunta: quem me garante que, uma vez divulgado o resultado, alguma engenharia especialmente bolada não o infiltre, com todas as simulações de um jogo normal, entre as apostas de uma determinada cidade?

Como milhões de pessoas, de vez em quando sou apostador. Como pagantes, nos cabe o legítimo direito a ter todas as respostas para todas as dúvidas. Não somos obrigados a saber nada, mas temos o direito de desconfiar de tudo. É obrigação das autoridades esclarecer e tranqüilizar a população. Esse processo todo precisa ser mostrado e explicado. Ou estaremos sempre desconfiados, principalmente porque a norma, ou lei, assegura o sigilo do vencedor.  
* Milton Saldanha, 67 anos, gaúcho, é jornalista desde os 17 anos. Trabalhou na imprensa de Santa Maria (RS) e Porto Alegre. Vive em São Paulo há mais de 40 anos. Passou por muitos empregos, entre eles Rede Globo, Estadão, TV Manchete, Diário do Grande ABC, Jovem Pan, revista Motor3, Ford Brasil, IPT, Conselho de Economia e vários outros, inclusive na Ultima Hora. Ao se aposentar, criou o jornal Dance, já com 19 anos. É autor dos livros “As 3 Vidas de Jaime Arôxa” (Editora Senac Rio); “Maria Antonietta, a Dama da Gafieira” (Phorte Editora) e “O País Transtornado” (Editora Movimento, RS). Participou da antologia de escritores gaúchos “Porto Alegre, Ontem e Hoje” (Editora Movimento). 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

TERRENO DO AEROPORTO DE CUMBICA É ALVO DE DISPUTA JUDICIAL

Família quer indenização pelo uso indevido das terras pelo descumprimento dos termos originais de doação da área.


O escritório Andrade Maia Advogados protocolou ontem (05), na Vara Federal da Justiça Federal de Guarulhos, notificação judicial que alerta para o descumprimento dos termos previstos na doação de terra onde, atualmente, está localizado o Aeroporto Internacional de Guarulhos (Cumbica), em São Paulo.

A doação da área foi realizada em 1940 pelas famílias Guinle e Samuel Ribeiro, através da Empreza Agricola Mavillis, sociedade entre ambas. “Com a doação, as famílias visavam oferecer um benefício à sociedade brasileira permitindo que, na área doada, fosse construído um aeródromo militar sob a jurisdição do então Ministério da Guerra. A intenção era a de ampliar e reforçar o sistema de defesa brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial”, conta Fabio Goldschmidt, sócio-diretor na Andrade Maia Advogados, escritório contratado para defender os direitos dos herdeiros. Para garantir a efetividade do objetivo proposto no ato da doação foi realizada a ‘doação modal’ – que condiciona sua manutenção ao cumprimento das condições previstas. 

A notificação é encabeçada por herdeiros da família Guinle (José Eduardo Guinle, Luiz Eduardo Guinle, Octávio Eduardo Guinle, Georgiana Salles Pinto Guinle e Gabriel Guinle). E dirigida à União, à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), à concessionária privada responsável pela gestão do Aeroporto Internacional de São Paulo, e, individualmente, às empresas que compõem a concessionária: Infraero, Investimentos e Participações em Infraestrutura S.A. (Invepar) e Airports Company South Africa (ACSA). Além destes, são também notificados os sócios da Invepar: Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros), OAS Investimentos S. A, Construtora OAS S.A, OAS S.A., Fundação dos Economiários Federais (Funcef), e Caixa de Investimento dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ). 

Os herdeiros entendem que houve o descumprimento das condições impostas no momento da doação e a notificação pretende prevenir responsabilidades e estabelecer um diálogo entre as partes envolvidas. “Claro que o terreno que abriga o Aeroporto de Cumbica vale bilhões, mas por não conter a notificação um valor líquido, preferimos, neste momento, não estabelecer um valor para eventual demanda”, acrescenta Goldschmidt.

Caso a notificação não seja atendida, os herdeiros pretendem entrar com ação judicial contra as notificadas, eventualmente acompanhada de pedidos liminares.

Para entender o contexto da notificação:

A partir da criação da ANAC, em 1985, a Infraero, até então subordinada aos órgãos do Ministério da Defesa, passou a ser fiscalizada pela referida autarquia. Ainda havia, neste momento, um vínculo entre ANAC e Ministério da Defesa, o que atendia a um dos objetivos da doação – que transferiu o terreno para a defesa do país. 

O cenário começou a mudar em março de 2011, quando o Governo Federal criou a Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, com status de Ministério. O Ministério da Defesa permaneceu como responsável para as questões relativas à aviação militar, e a Secretaria passou a cuidar da aviação civil. Sob sua administração ficaram os bens e a jurisdição de todos os aeroportos civis e comerciais do país, entre eles o Aeroporto de Guarulhos.

“Conforme verificamos”, explica Fabio Goldschmidt, “houve quebra de uma das condições da doação: a que exigia a manutenção das terras sob a jurisdição do Ministério da Guerra, ou aquele que lhe sucedesse como responsável pela segurança nacional, atualmente o Ministério da Defesa”. Entretanto, ainda assim, continuava sob a tutela da administração pública federal, e os frutos da exploração revertiam em favor do povo, via empresa pública de capital integralmente do Estado. 

Porém, em leilão realizado em fevereiro de 2012, o controle, administração e exploração comercial do Aeroporto de Guarulhos foram concedidos a terceiros particulares, em consórcio formado por empresas privadas, inclusive estrangeiras. “Isso significa que, ao invés de a exploração do aeroporto atender diretamente ao interesse do povo brasileiro e da defesa nacional, a área foi entregue a empresas para exploração econômica, com o objetivo de lucro em favor de empresas privadas, em vez da sociedade brasileira, como condicionaram os doadores em instrumento público”, comenta o advogado. O imóvel, que possuía por finalidade exclusiva a segurança nacional, foi posto a serviço de interesses privados, sem permanecer sob a jurisdição do Ministério da Defesa. 

O direito de explorar o Aeroporto de Guarulhos pelo prazo de vinte anos, prorrogáveis por mais cinco anos, foi concedido à Sociedade com Propósito Específico (SPE) formada pela empresa brasileira Invepar e pela sul-africana Airports Company South Africa – ACSA, detendo essas 51% do controle do aeroporto, passando a ser sua efetiva e real administradora e exploradora. “A concessão, de fato, deturpou a finalidade expressa da doação, convertendo um patrimônio doado para benefício do povo em objeto de exploração econômica por particulares e, principalmente, sob a jurisdição de Secretaria que não detém qualquer competência em matéria de defesa e segurança nacional”, enfatiza o advogado. 

“Desse modo, a partir da assinatura do contrato de concessão foram descumpridos não apenas a incumbência expressamente prevista no documento firmado em 1940, como, especialmente, o seu propósito maior que era o de beneficiar o povo brasileiro, havendo a quebra absoluta das condições da doação”, conclui Goldschmidt. “Essa situação adversa motivou os herdeiros a nos procurar para reaver, junto à Justiça, o que lhes cabe por direito”. Segundo ele, a notificação é o primeiro passo para resolver a situação sem que haja necessidade de entrar com uma ação judicial. 

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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

QUANTO VALE A VIDA DE UM JUIZ?
por Cláudio dell´Orto*

A Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj) promove, em 8 de novembro, a cerimônia de entrega do Prêmio Patrícia Accioli de Direitos Humanos, em sua segunda edição, que homenageia essa grande juíza fluminense, assassinada há dois anos. Pagou com a vida a coragem e ética no exercício de seu trabalho em defesa da sociedade, da Justiça, do Direito e da democracia.

Quanto vale a vida de um magistrado? Esta é uma pergunta que deveria ser sempre respondida antes de se veicularem informações incorretas sobre os vencimentos dos juízes, cujos salários respeitam o teto constitucional, e de se especular com relação a proventos como verbas indenizatórias e auxílio-alimentação. É preciso considerar que a Magistratura é uma carreira que impõe limitações à conduta cotidiana dos profissionais, inclusive pertinentes à segurança. Trata-se de uma profissão que deve ter remuneração compatível com os riscos a ela inerentes e com suas responsabilidades como guardiã dos direitos e deveres e garantidora das prerrogativas democráticas.

Os magistrados são submetidos a formação especial e deles se espera, além de profundo conhecimento jurídico e das leis, um especial comprometimento com a realização dos objetivos fundamentais da República. Afinal, são membros de Poder Judiciário, uma das instituições basilares do Estado, selecionados e nomeados por meio de rigoroso concurso público, acessível a qualquer brasileiro que se disponha a cumprir as várias etapas de preparação, que duram vários anos, incluindo a difícil formação acadêmica em Direito.

Os juízes não podem desempenhar outra atividade econômica paralela, exceto um cargo de professor. Isso exige que o seu sistema remuneratório seja um instrumento capaz de assegurar nível de vida compatível com as responsabilidades atribuídas pela sociedade nos milhões de processos que diariamente precisam ser decididos para que todos os brasileiros possam ter uma vida mais justa, reduzindo-se as desigualdades sociais.

Uma remuneração adequada certamente permite que os cidadãos disponham de um Judiciário melhor, porque os profissionais mais competentes não serão estimulados a migrar para outras áreas do Direito nas quais os salários e vantagens financeiras sejam mais atraentes. Os estudantes de Direito, sabendo que a Magistratura é bem remunerada, terão mais um estímulo para se dedicar ao estudo aprofundado das leis e dos conteúdos acadêmicos dessa ciência. Os magistrados que já acumulam experiência no serviço jurisdicional trabalharão com a certeza de que suas famílias terão uma vida compatível com a responsabilidade e o risco das atividades que exercem.

Seria mais justo com a categoria e com a sociedade que se perguntasse, antes de se especular quanto aos vencimentos dos magistrados, quanto vale a sua vida, este bem irreparável. Há cerca de 500 juízes ameaçados no Brasil atualmente. Alguns, assim como suas famílias, pagam alto preço pelo exercício digno da profissão, como nos lembra dolorosamente a memória de Patrícia Accioli.


* O Desembargador Cláudio dellOrto é o presidente da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (AMAERJ).

Ricardo Viveiros & Associados – Oficina de Comunicação
Claudia Reis
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NÃO SEJA MACHO, SEJA HOMEM.
por Breno Rosostolato.

No período Paleolítico, a sexualidade feminina era o símbolo máximo de fertilidade. As representações de deuses possuíam imagem e corpo de uma mulher. O homem desconhecia a importância de seu papel no nascimento de uma criança e assim a mulher era respeitada como sendo um ser que proporcionava a vida e a morte. A deusa-mãe era cultuada e o sucesso do cultivo na lavoura, bem como o cultivo do alimento, era atribuído às influências da deusa da fertilidade. 

Desconhecia-se o vínculo entre sexo e fecundação. Os homens, com o tempo, perceberam que matar os animais para se alimentarem causava a diminuição deles. Resolvem, então, domesticá-los, abandonando assim a caça. Através da observação do homem nas ovelhas é que ele descobre a contribuição do cordeiro na procriação. É diante desta revelação que o homem toma para si a concepção da vida através do sêmen e assim, diminui a importância da mulher que, por sua vez, perde sua autonomia, a liberdade sexual e sua importância na sociedade. É neste momento que acontece uma mudança radical na relação, nos papéis e principalmente nas mentalidades entre homens e mulheres. O homem passa a enaltecer sua importância como o detentor da vida através do sêmen colocado na mulher. O macho, enfim, surge e cultua uma doutrina de virilidade e poder, em que a mulher deve resignar-se e obedecer. Ao pênis, pompas de um instrumento essencial, que produz o líquido da vida. 

Este é o machismo. Um fenômeno perpetuado na história, de conceitos de superioridade ideológica e que vai sustentar um sistema patriarcal que consiste na figura do homem a centralização de decisões, regras, padrões, normas e condutas. E é na forma de pensar que se sustenta o machismo, as imposições do opressor e a submissão do oprimido. O conceito equivocado do sexismo dá a tônica desta disputa. Ações que privilegiam o sexo masculino ou o feminino se digladiam na tentativa de derrotar uns aos outros, são brigas enfadonhas e desnecessárias. O tempo de servilismo das mulheres acabou na medida em que o androcentrismo, ou seja, os privilégios masculinos, sucumbem diante dos movimentos de igualdades sexuais.

A “cultura do machão” criou conceitos e estereótipos de que são e como devem ser os homens. Não podem dispensar mulher nenhuma e que devem ser sempre viris. Existe uma constante preocupação com o pênis e a ereção. Falhar é inadmissível. Devem ser soberanos e comandar, ser fortes e não demonstrar fraquezas, para tal, devem se impor, nem que para isso utilizem a violência. Controlar a família e a esposa são características valorizadas no machão, que enxerga a mulher como sua propriedade. Haja vista que para assegurar filhos legítimos, os maridos aprisionavam suas esposas em casa e restringiam a vida social delas. Uma maneira de coibir a o adultério da esposa e garantir a legitimidade da paternidade. Mulheres subordinadas à dominação do marido é a regra básica do patriarcado que enaltece uma linhagem masculina. O privilégio ao homem sucumbe a importância da mulher. O curioso é que este conceito de postura feminina foi por muito tempo considerado o aceito socialmente: submissa, obediente e subserviente ao marido.

O ideal masculino ainda é perseguido pela maioria dos homens. Eles devem ser fortes, austeros, viris, ter sucesso, ousadia e, sobretudo, serem bons de cama. Para se alcançar este ideal de superioridade, homens baseiam-se no controle e na manipulação, impedindo a argumentação do outro. Este é o “machão”, que se impõe de maneira violenta para que a companheira tenha medo e assim, se submeta a este controle. A violência física é consequência da violência emocional, que começa com um olhar de desprezo, intimidações e coerções. Esse tipo de homem procura se manter, ao mesmo tempo, se baseando em conceitos de “machão”, ao mesmo tempo em que procura se manter através de conceitos patriarcais e de uma violência contra a mulher que só denuncia uma fragilidade, confusão e covardia. Esta mentalidade equivocada começa a declinar e revela uma severa crise ideológica. 

Diante de todas estas exigências e cobranças da sociedade, os homens, hoje, dão sinais evidentes de cansaço e insatisfação em manter este papel do machão, se libertando cada vez mais. Esta máscara foi usada durante tanto tempo que fez com que os homens esquecessem quem de fato são. Possuem necessidades assim como as mulheres e como tal são sensíveis, frágeis, amorosos e podem demonstrar seus sentimentos sem nenhum constrangimento. Este é o homem de verdade e que dispensa aspas. Ele não se coloca igual a mulher, porque, de fato, seu lugar sempre foi ao lado dela. Respeita e reconhece o espaço feminino. O homem de verdade dá e recebe, sem precisar se impor. Não precisa usar a violência e se vale do diálogo, buscando o vínculo. Não é onipotente tampouco autossuficiente. Está disposto a ensinar, mas, principalmente a aprender com a mulher. Não precisa concorrer ou disputar com outros homens a caverna com suas claves. A propósito, o homem não quer ficar na caverna e busca constantemente discutir e se reposicionar na sociedade, desmistificando a cultura ditatorial do “machão”.  Então, sejamos homens e não machos.


* Breno Rosostolato é professor de psicologia da Faculdade Santa Marcelina - FASM.
Ricardo Viveiros – Oficina de Comunicação.

Nathany de Santa Bárbara
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domingo, 3 de novembro de 2013

MANCHETES COMPROVAM: MÁFIAS IMOBILIÁRIAS EXIGEM MAIS DO MP,
por Daniel Lima*

As manchetíssimas de primeira página do Estadão e da Folha de S. Paulo deveriam servir de dogma para a mídia não se descuidar da cadeia de corrupção envolvendo gestores e servidores públicos e máfias imobiliárias. E são mais um chute nos fundilhos dos aparvalhados juramentados que pretendem calar este jornalista. 

Está faltando ao Ministério Público da Província do Grande ABC agir com mais aparelhamento funcional para acabar com a farra do boi do setor imobiliário. Afinal, o que se passa na Capital é um repeteco do escândalo do Semasa, durante a Administração Aidan Ravin, noticiado fartamente e até agora sem encaminhamentos transparentes ao Judiciário. Outros Semasas estão escancarados a investigações. Vou mais longe: há diversos artifícios a lubrificar a engrenagem de enriquecimentos ilícitos que colocam na rabeira de potencial de receitas ilícitas o esquema do ISS paulistano. 

Não fosse o Corregedor-Geral do Ministério Público do Estado de São Paulo a denúncia desta revista digital sobre a falcatrua que transferiu aos acervos do conglomerado MBigucci uma área nobre de São Bernardo, até então vinculada à Prefeitura, o caso teria permanecido engavetado. Assim o decidiu o Gaeco, uma divisão especializada em crime organizado do MP na região. Por razões que somente a promotora pública responsável pelo Gaeco poderia explicar, jogou-se na lata do lixo série de informações e provas. Felizmente o Corregedor-Geral entrou em campo, determinou que se realizassem análises preliminares e, confirmadas as suspeitas de irregularidades (mais que suspeitas, são provas documentais deste jornalista e de uma instância judicial da Capital), o inquérito civil foi aberto. 

No mesmo caso de intervenção do Corregedor-Geral do Ministério Público paulista, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, preferiu esconder documentos solicitados ao então Procurador-Geral do Município, José Roberto Silva. O mesmo servidor público que assegurou a este jornalista providências em âmbito administrativo, inclusive punição a funcionários. Em seguida, o procurador acabou virando secretário de Finanças da Prefeitura de Mauá, petista como a de São Bernardo, e nenhuma medida foi determinada. 

O empenho de Luiz Marinho no caso do Marco Zero, batismo do empreendimento imobiliário da MBigucci naquela área surrupiada do Poder Público, está para o empenho do prefeito paulistano Fernando Haddad assim como a qualidade técnica do Jabaquara de Santos para o Bayern de Munique. A série de denúncias do Diário do Grande ABC apenas confirma o referencial com que Luiz Marinho deve ser saudado quando a temática for ética pública.

Árvore frondosa

É frondosa a árvore de corrupção do setor imobiliário na Província do Grande ABC. Basta o Ministério Público avançar em investigações que serão desbaratas quadrilhas de servidores públicos e de empresários bem postados nos meios sociais, gente aparentemente acima de qualquer suspeita. E só estão acima de qualquer suspeita porque o entorno é assemelhado. Há corrente mutuamente protetora de delitos. 

Se o MP quiser, este jornalista apresenta fontes de informação que vão ajudar a reduzir o grau de corrupção no setor. Só é preciso assegurar anonimato. O único idiota a mostrar a cara e a sofrer demandas judiciais, além de ameaças diversas, é este jornalista. Querem porque querem me exaurir emocionalmente, financeiramente, socialmente. Mal sabem que tenho um pacto de autopreservação. 

Aos leitores que não tiveram a oportunidade de ler o Estadão e a Folha de S. Paulo, reproduzo as chamadas de primeira página logo abaixo das manchetíssimas.

Da Follha de S. Paulo -- “Fiscal confirma esquema de propina”

O fiscal Luiz Alexandre Magalhães, um dos quatro servidores da Prefeitura de São Paulo presos, acusados de cobrar propina para liberar novos imóveis, aceitou fazer uma delação premiada. Segundo o promotor Roberto Bodini, o fiscal apresentou detalhes que “só alguém que participava do grupo conhecia”. Entre outras informações, o servidor contou que os quatro recebiam a maior parte da propina em dinheiro vivo. A Folha confirmou a confissão com mais dois profissionais da investigação. A defesa de Magalhães nega que ele tenha admitido participação no esquema. Magalhães possui um patrimônio de R$ 18 milhões, segundo a investigação. O grupo oferecia às construtoras a chance de reduzir o imposto devido se pagassem comissão. A fraude pode ter gerado prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres públicos. O prefeito Fernando Haddad (PT) disse que há outros envolvidos na fraude na Secretaria de Finanças, mas não citou nomes. Anteontem, ele ligou para o seu antecessor, Gilberto Kassab (PSD), para dizer que a investigação é impessoal. Kassab, no entanto, tem reclamado da maneira como a operação foi divulgada para a imprensa. 

Do Estadão -- “Fraude na Prefeitura envolve 5 construtoras aponta MP”

Pelo menos cinco incorporadoras foram identificadas pelo Ministério Público como as primeiras suspeitas de ligação com os fiscais da Prefeitura de São Paulo presos anteontem, revelam Artur Rodrigues, Bruno Ribeiro e Diego Zanchetta. Parte da própria propina paga em troca de redução de ISS era entregue em dinheiro, no 11º andar da sede da Prefeitura, onde ficava o ex-subsecretário de Finanças Ronilson Rodrigues. O então prefeito Gilberto Kassab (PSD) despachava no 5º andar. Investigações mostram que o valor chegava a R$ 280 mil por semana. São citadas as empresas Trisul, BKO, Tarjab, Alimonti e Brookfield, que negam as acusações. Pelo menos mais dois servidores aparecem como suspeitos de participar do esquema. 

Demais é pouco

Os estúpidos de plantão, que fazem o jogo dos poderosos de sempre, dizem que escrevo exageradamente sobre o mercado imobiliário e especialmente sobre Milton Bigucci. Tudo na tentativa de desclassificar ou minimizar estas linhas. São os grandes jornais e a mídia eletrônica de maior peso que subestimam uma atividade que, juntamente com algumas outras já mencionadas aqui (Educação, Saúde, Transporte Público e Empreiteiras de obras) comandam os cordéis de desmandos com o dinheiro público. 

Já sugeri que o Ministério Público crie uma instância especifica para o setor imobiliário, mas o segredo do cofre das malandragens está ao alcance de todos que queiram botar a mão na massa. Há servidores públicos e há empreendedores privados, em larga maioria, que não suportam mais conviver com os espertalhões, porque sofrem as dores de concorrência desleal. Os infratores sempre levam vantagem. Até o Ministério Público aparecer, é claro. 


* Daniel Lima é jornalista e diretor da revista digital Capital Social - www.capitalsocial.com.br 

FOCO NO CLIENTE NÃO TEM DATA DE VALIDADE,
por Paulo Ferezin*

O setor de consumo continua a enfrentar constantes mudanças no cenário mundial. Vivemos um período de instabilidade nas economias e constante mudança nos hábitos de consumo, criando, dessa forma, preocupações e oportunidades de se diferenciar no segmento.

Segundo a recente pesquisa intitulada Consumer Executive – Top of Mind 2013” (Executivo do setor de consumo – Top of Mind 2013), realizada em conjunto pela KPMG internacional e o “Consumer Goods Forum (CGF)”, um em cada cinco executivos do setor elege “a economia e as demandas dos consumidores” como a principal preocupação este ano, e mais de 40% colocam esse item como um dos três mais importantes em suas agendas.

Olhando para o Brasil, quando analisadas as expectativas de crescimento nas vendas para os próximos dois anos, o empresariado está otimista. Quarenta e quatro por cento dos executivos acreditam que aumentarão e apenas 6% não creem nessa possibilidade. Apesar das turbulências dos últimos anos, o País apresenta um cenário de crescimento e, com ele, mais pressão para as empresas contratarem e manterem talentos e pessoal especializado e encontrarem formas mais sustentáveis ​​de gerir seus negócios. Assim, as principais preocupações do empresariado direcionam-se à busca de profissionais especializados/recursos humanos, melhoria de produtividade e à responsabilidade corporativa.

Para que essa expectativa de avanço torne-se realidade é necessário que o foco esteja voltado aos clientes. As empresas têm reconhecido o poder e a influência do consumidor. Por isso, o objetivo é trabalhar com o cliente e atender às suas necessidades, ao invés de apenas tentar influenciá-lo.

Para capturar a importante atenção do consumidor em meio à feroz competição, as empresas de varejo buscam formas de diferenciação e perpetuidade, sendo que muitos voltam seus olhos para capitalizar seu comércio por intermédio da internet e dispositivos móveis, dentre eles smartphones e tablets. A aceitação crescente da Web como um meio de compras torna-se um desafio e uma oportunidade para os varejistas. Ao compreender e alavancar o poder das mídias digitais e sociais, as empresas podem integrar suas estratégias on-line a suas vendas, possibilitando maximizar retornos financeiros.

Hoje, o consumidor, além de mais esclarecido e antenado, possui recursos tecnológicos que o ajudam a comparar preços e qualidade, em tempo praticamente real, e a influenciar sua rede de contatos e o mercado. Como resultado dessa nova realidade do mercado, os consumidores estão exigindo mais de tudo. Estas expectativas, juntamente com o aumento dos preços dos insumos, cadeias de suprimentos e regulação complexas e concorrência, criam diversos desafios no caminho do crescimento sustentável das empresas.

O mundo do varejo está sempre oscilando devido, principalmente, à evolução da tecnologia e alterações econômicas, demográficas e etárias. Apesar dessa montanha-russa, existem fatores estáveis e que sempre estarão no topo das agendas dos executivos. Ter bons produtos e custos baixos com um foco constante no cliente é prática crucial e sem data de validade.

O velho ditado de que o cliente tem sempre razão é, mais do que nunca, uma verdade incontestável!
* Paulo Ferezin é diretor da KPMG e líder para a área de Varejo.


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sábado, 2 de novembro de 2013

ONDAS ALTAS,
por Marli Gonçalves*

Temos que diariamente ter a mesma tranquilidade da jovem e destemida Maya Gabeira, nossa super hiper supercampeã de surf em ondas altas, altíssimas, e que esta semana nos deu um grande susto despencando de uma gigante de mais de 24 metros de altura, salva por um amigo já desacordada e apenas com um tornozelo quebrado. Poucas horas mais tarde ela própria dava a notícia que estava bem, "pronta para outra". Todos os dias passamos por perigos muito grandes assim, mas sem querer. E não estamos tão preparados como ela para sobreviver.

Puxou mesmo o pai essa determinada menina Maya e seu bonézinho. O pai, o jornalista e político que todo mundo conhece, intelectual de primeira, já se meteu em grandes ondas, só que, digamos, não tão próximas da natureza. Acabou baleado, preso e exilado do país durante anos. Continua hoje se reinventando a cada momento. Maya é persistente no caminho do surf. Como praticamente a vi nascer e lembro dela desde muito menina acompanho daqui, atenta, a sua trajetória. Se tem coisa que admiro numa pessoa é a coragem. Muito mais ainda numa mulher.

O susto do acidente da surfista em Portugal não foi o único, apenas o mais romântico, de mais uma semana cheia de notícias violentas demais da conta até para roteiristas de terror. Em plena manhã e em uma das mais movimentadas avenidas de São Paulo, onde tranquilamente eu ou alguém de minha família (ou da sua) poderia estar passando, seis tiros atingiram e mataram o filho de uma querida leitora. Sem explicação, sem roubos e sem assalto, e sem polícia. O sinal parou, o cara saiu do carro de trás, deu seis tiros e saiu andando e rebolando, sem que nada o detivesse. 

Logo depois o noticiário falava de uma policial do Rio de Janeiro, de uma UPP, recebendo num saco, em sua porta, a cabeça decapitada do seu marido. Quem foi, os motivos, serão esquecidos no vento. Assim como a vida da estudante baleada na cabeça, pega a caminho de sua faculdade e que, ingenuamente, caiu no velho golpe da batida atrás; saiu do seu carro, que era blindado, para ver. Até o momento em que escrevo ela está viva, estado gravíssimo, mas me digam se a vida dessa jovem poderá ser normal daqui em diante, se ela conseguir sair do hospital.

Aí, em um dia, um policial vai sair do carro e a sua arma (parece que várias armas da PM de São Paulo estão com defeito, mas ninguém ligou exatamente para esse fato) dispara e mata um jovem na periferia de São Paulo. Ao protesto justo de seus familiares e amigos junta-se sei lá mais que tipo de gente, ateiam fogo em tudo, quebram outro tanto, param uma estrada federal por mais de quatro horas, assaltam os motoristas. Tocam o terror. No dia seguinte, a poucos quilômetros dali outro jovem é morto em uma ação policial e tudo se repete. Isso na mesma semana em que correram o mundo as imagens de um coronel sendo espancado pelos excluídos do Baile de Máscaras. Só se for.

Há meses venho tentando entender melhor, entre outras, a violência das manifestações e os black bobocas que sei lá de que livro surgiram. Para mim, apenas uns garotos que ouviram cantar o galo não sei aonde, pensando que estão num jogo virtual e apenas sendo operacionalizados por todo tipo de bandidos reais, bem reais, aqueles da tal organização de três letrinhas. E não é que a polícia começou só agora a admitir que desconfia da infiltração? Simples: no calor de um grupo, com um monte de palavras de ordem ao vento, basta um começar o quebra que outro bando de otários logo vai se juntar a ele. Só que só os otários estão sendo presos; os espertos se safam. O comportamento de massa é sempre igual ao de uma manada. O que torna até bem fácil esse tipo de manipulação.

Não estamos em campeonatos. Não podemos estar preparados para tanta violência e nem para a vida estar valendo tão pouco. Que está acontecendo? E eu dirijo essa pergunta tanto aos estadistas e dirigentes das grandes nações até aos pais e mães que estão "produzindo" essas gerações. Ok. Violência sempre houve. Mas não tão desmedida, tão simples, tão acessível, tão generalizada, tão banalizada.

Nunca fui a mais corajosa da turma, até porque não tive infância - nasci em plena área urbana. Passo longe de esportes radicais. Aprendi a nadar só aos 23, e acho até que já esqueci porque não me largo na água muito suavemente, apesar de amar as sereias, e talvez até por isso. Nunca subi - e não pretendo subir - em uma montanha russa. Juro que não lembro se já me amarraram numa roda gigante, ou numa xícara maluca. Meu máximo foi o bicho da seda. Melhor: o tobogã, aquele que você vinha, escorregava em um barquinho lá de cima dentro da água, me viu uma única vez. No tempo que o Playcenter era deste tamaninho, um parquezinho numa avenida perto do Ibirapuera, e apenas para não envergonhar minha mãe que me acompanhou toda feliz nessa aventura. 

Sei que tem quem dá a vida por adrenalina, em qualquer dose. A do medo, dos saltos de paraquedas, parapentes, para qualquer outra coisa, e ainda pagam por isso! Acho demais, mas a minha adrenalina - e a coragem - tiro de outros lugares, muito mais além das inúmeras vezes que me botei em risco na profissão de repórter, ou ainda em cima de uma motocicleta, a primeira aos 13 anos, aposentada como me declarei após uma queda violenta há mais de 20 anos. Escrevendo o que penso, cobrando o que posso de quem pode fazer mas não faz. Me safando das trairagens.

Não dá mais para relaxar, tralalá, tralálá. É se benzer para sair de casa e agradecer a Deus quanto volta quase ileso sem pelo menos uma aporrinhação. É ficar atento a quem a gente ama, contando cabeças igual um bicho deve conferir seus filhotes antes de se recolher. É violência em cima de violência. Pior é que tem sido bem geral: estamos levando tiros de decisões políticas também - inábeis - o que faz da simples sobrevivência uma bela aventura. 

Pena que sem o belo cenário e o barulho das ondas do mar. 

São Paulo, 2013











* Marli Gonçalves é jornalista - Vendo só os altos e baixos do carrossel. E um monte de gente dando cavalo de pau. 
E-mails: marli@brickmann.com.br e marligo@uol.com.br.
Tenho um blog, Marli Gonçalves, divertido e informante ao mesmo tempo, no marligo.wordpress.com
Estou no Facebook, no Twitter @Marligo e no Coisas de Agora.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

GUERRA À IMPRENSA,
por Carlos Brickmann*

A Turma da Censura, gente poderosa que procura acionar a Justiça para calar jornalistas e a imprensa em geral, está criando na prática um protocolo de atuação: o processo em si deixa de ser importante, pois o fundamental é tumultuar a vida da vítima - quer dizer, do adversário - tentando sufocá-lo economicamente. Foi o que fez a Igreja Universal com a repórter Elvira Lobato, movendo-lhe inúmeros processos idênticos em inúmeras comarcas, para obrigá-la a ter gastos enormes para defender-se (advogados diversos, para atender a múltiplas convocações, muitas viagens, hospedagens em locais distantes, etc.) Ou o que fez o Governo Mário Covas, do PSDB paulista, tentando calar este colunista: processos seguidos, movidos por dois secretários e até por um parente de Sua Excelência, alguns dos quais prosseguem até hoje. Houve detalhes sórdidos: por exemplo, um dos secretários tentou convencer uma tia do colunista, senhora de quase 90 anos, que muitos anos antes tinha sido sua vizinha, a depor contra o próprio parente. Não teve êxito, mas que fez a tentativa, isso fez.

No momento, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, está seguindo o protocolo: contratou um advogado paranaense, filho de ex-governador, para processar no Paraná um jornalista de São Paulo, Ucho Haddad -www.ucho.info. Por que no Paraná? Para tentar exauri-lo financeiramente, com despesas de viagem, de hospedagem, de alimentação, de contratação de advogado de outro Estado. São despesas que Sua Excelência a ministra, com direito a viajar para seu Estado por conta do Governo, não tem. Trata-se de um processo - de novo, sempre de acordo com o protocolo da Turma da Censura - sem paridade de armas.

Outro que tentou bloquear a difusão de informações foi o deputado estadual paulista Fernando Capez, do PSDB, procurador de Justiça licenciado. Capez pediu à Justiça que o colunista esportivo Juca Kfouri, que goza de grande prestígio, fosse impedido de publicar no futuro textos que o criticassem. A relatora, ministra Nancy Andrighi, do STJ, disse que a proibição da publicação de informações no futuro acarretaria "à imprensa em geral e à própria sociedade um dano excessivo e desproporcional (...)" Capez foi derrotado por unanimidade no Superior Tribunal de Justiça, STJ, mas que fez a tentativa, isso fez. 

Se, no futuro, o Sr. Parlamentar se considerar ofendido, que faça como qualquer cidadão comum: processe o ofensor pela causa concreta, em vez de tentar censurá-lo preventivamente.

Enfim, é preciso prestar atenção: a tentativa de censura via Justiça se consuma pela imposição ao adversário de gastos que ele não tenha como suportar. 

Estranho silêncio


Eduardo Gaievski, assessor da ministra Gleisi Hoffmann, preso sob acusação de abuso sexual de menores (quarenta casos, sendo que 17 envolvem menores de 14 anos), foi transferido da prisão de Curitiba para a Penitenciária Estadual de Francisco Beltrão, a menos de uma hora de viagem do Paraguai. É preciso lembrar que Gaievski foi preso em Foz do Iguaçu, quando preparava sua ida ao Paraguai; é preciso lembrar, também, que há três meses nove presos de Francisco Beltrão renderam o carcereiro e saíram tranquilamente. Nenhum foi recapturado.

O mais estranho, porém, é o silêncio em torno da transferência. A notícia saiu em jornais e blogs paranaenses, foi divulgada no www.ucho.info (exatamente: do mesmo Ucho Haddad que a ministra Gleisi está processando), e só. 

É curioso: como é que um homem importante, braço direito de uma ministra, cotadíssimo para comandar sua campanha ao Governo, preso sob acusação de crimes contra menores, é transferido de prisão sem que o restante do país seja informado? 

Falando de crianças


O jornalista Fernando Portela, em nome da diretoria do Conar, Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária, complementa nota desta coluna sobre a sórdida exposição de uma criança de três anos, fotografada no Ceará em poses que imitam a sensualidade exibida por modelos adultas: 

"Nós, do Conar, recebemos até o momento em que enviamos esta mensagem 195 queixas a propósito do caso do Ceará. O processo foi instaurado em 15 de outubro. A própria empresa anunciante veio a público se desculpar e retirou a imagem de sua página na Internet. O julgamento será feito na 8ª Câmara, no Recife, em 22 de novembro".

O Conar é eficiente: anunciante que foge à ética passa a ser imediatamente investigado e o julgamento ocorre com toda a rapidez possível. Bom exemplo.

A grande poesia


Foi agora, no dia 29: José Paulo Cavalcanti, jurista conceituado, escritor brilhante, meticuloso, participou de debate no Sesc Vila Mariana sobre dois livros de primeira qualidade: Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, e Fernando Pessoa, o livro das citações - ambos editados pela Record. Valeu a pena, não apenas pelos livros (Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, mostra cada detalhe da vida do poeta português, todos devidamente verificados - talvez nem o próprio Pessoa conseguisse tamanha precisão ao relatar sua vida), mas também pelo debate: Cavalcanti é simpático, erudito, sabe do que fala, é bom de conversa. 

A grande arte


Há pouco mais de cinquenta anos, o argentino Enrique Lipszyc chegou ao Brasil e revolucionou o mundo das artes: juntou os grandes talentos do mercado, gente como Ziraldo, Zélio, Manoel Victor, Nico Rosso, Mario Tabarini e, com eles, criou a Escola Panamericana de Artes, que sistematizou o ensino artístico no país e o elevou a um nível respeitado no mundo inteiro. 

Nestas décadas todas, Lipszyc reuniu uma belíssima coleção: Caciporé, Vlavianos, Wesley Duke Lee, Cláudio Tozzi, Oswald de Andrade, Mira Schendel, Antônio Henrique Amaral, Modigliani, Peticov, Mário Cravo, sempre artistas de primeira linha. E agora, com a colaboração de Jacob Klintowitz, promove a exposição destas obras magníficas. É uma coleção interessantíssima, porque não se prende a uma temática, a um autor, a uma época: reflete o gosto pessoal do colecionador - e que bom gosto! Vai até fevereiro, na rua Groenlândia, 77, São Paulo, ali onde Lipszyc ergueu um dos marcos da cidade, a Pirâmide de Vidro.

O não jornalista - e que jornalista! 


Este colunista o conheceu no Jornal da Tarde: Antônio Maschio, sempre barulhento, sorridente, feliz, era um dos grandes animadores da redação. Jornalista? Não: um promotor de cultura, um "agitador cultural". Começou aparecendo na redação para divulgar peças, livros, eventos; acabou virando parte dela, palpitando, opinando, dando sugestões. E, na redação do JT, encontrou seu sócio: Vladimir Soares, o Frajola, repórter e redator de Variedades. Juntos, abririam um bar e restaurante que marcou São Paulo, o Spazio Pirandello.

Virou ponto de encontro, o Pirandello. Ali se reuniam artistas, jornalistas, estudantes, professores; escritores como Mário Prata e Ignácio de Loyola Brandão; a Turma das Diretas, com Osmar Santos, Caio Prado, Caio Fernando Abreu; Fernando Henrique Cardoso era presença constante. Ali foi um dos pontos de convergência da campanha das Diretas Já, que embora derrotada levou Tancredo Neves à Presidência da República. 

Curiosamente, o Pirandello não sobreviveu à redemocratização do país. Maschio e Vladimir Soares seguiram cada um o seu caminho, sempre com brilho. Vlad escreveu um gostoso livro de reminiscências, Spazio Pirandello: assim era se lhe parece. Maschio foi fundador tanto do PSDB como do PT; mas escolheu os tucanos. E foi tucano até o final de sua vida, na semana passada, levado por complicações decorrentes de um câncer de pâncreas.

Já se disse milhares de vezes que o cemitério está cheio de pessoas insubstituíveis. A frase será repetida mais uma vez. Mas Antônio Maschio fará falta.

É fácil acertar


1 - Atenção, caro colega: simples é simples, simplório é simplório. Não são sinônimos, não. Simples quer dizer "singelo, sem ornamentos". Simplório quer dizer "indivíduo ignorante, ingênuo, tolo". Um carro não é "simplório"; é simples. Simplório é quem paga por esse carro simples o preço de um Rolls-Royce. 

2 - Quando apontar algum erro de grafia cometido por pessoas pouco alfabetizadas, preste atenção no próprio texto. Outro dia, uma faixa com as palavras "displiçência não" teve o erro assinalado. E aí segue o texto: "Gramática à parte (...)" E desde quando a grafia das palavras tem algo a ver com a gramática? Gramática é o conjunto de normas que estruturam a língua. Grafia é a convenção pela qual os sons são representados. 

3 - Está num grande jornal impresso: o entrevistado diz que tem uma "kitnet". Pelo sentido da frase, deve ter uma kitchenette (ou, aportuguesada, quitinete), um imóvel pequeno, com sala e banheiro, e um armário que se transforma numa pequena cozinha. Como o entrevistado não escreveu, quem sabe o repórter poderia perguntar a alguém a que é que ele se referia?

Por que simplificar? 


Está num blog sempre bem feito, que vale a pena ler: o do gaúcho Fernando Albrecht - www.fernandoalbrecht.com.br. Ele conta como é um press-release que recebeu, da assessoria de imprensa de um médico:

"Seja eficiente ao dar o laço para que ele não solte facilmente. Mas, como manter o laço firme? Após dar o laço, segure o cadarço no ponto entre o buraco do sapato e o nó do laço com os dedos polegar e indicador, dos dois lados dos passadores, um com cada mão, e puxe para as laterais. O primeiro nó ficará mais firme e o laço tenderá a ficar melhor centralizado. Esta técnica (...)"

"Vocês não vão acreditar no tamanho do e-mail: nada menos do que 1.449 palavras ou 8.259 caracteres em 104 linhas de computador para explicar como se faz essa proeza! Por aí você tem uma ideia de como anda nossa profissão".

E a gente botando a culpa dos manuais incompreensíveis só nos nerds! 

Como... 


"Trator guia grupo de gansos", diz a legenda de um grande portal informativo.

A foto é linda. Mas mostra que o trator está atrás dos gansos, esperando passagem.

...é... 


De um dos maiores portais informativos do país:

"Motorista avança contra manifestantes em protesto em frente à USP"

O texto informa que o motorista chegou a atropelar uma manifestante, que foi parar em cima do capô, sem se ferir; e que a PM deteve o motorista em seguida.

Só não contaram quem era o tal motorista. E, pela quantidade de detalhes da informação, certamente sabem de quem se trata.

... mesmo? 

Tanto na capa como no texto de um grande portal informativo:

"Muricy vai receber R$ 2 milhões se São Paulo ir à Libertadores"

O portal só não informa se, caso o time não ir à Libertadores, os dirigentes também premeiam o ténico.


As não notícias


Só duas selecionadas. Mas de alto nível: escreve-se, gasta-se papel, gasta-se com a transmissão, gasta-se tempo para ler, e informação que é bom, nada.

1 - Gaga estaria noiva?
Está ou não está?

2 - Vídeo de ato mostra suposto flagrante forjado
Este é duplo: suposto e forjado. Foi flagrante ou não foi?


Frases


Do escritor Marçal Aquino sobre Luiz Ruffato:
Sempre vamos preferir um artista que faça política a um político que faça poesia

Do economista Eduardo Giannetti da Fonseca sobre o apoio do empresariado à presidente Dilma Rousseff: A elite empresarial está no bolso do governo

Do jornalista Ricardo Setti:
Você acredita mesmo que a oficial TV Brasil não apresentou o Roda Viva com Marina Silva por "problemas técnicos"? 

Da jornalista Vera Martins, tuiteira antenadíssima:
Tem torcedor do Corinthians se mobilizando para entregar Pato ao Instituto Royal. Ativistas ainda não se pronunciaram. 


E eu com isso? 


Aqui é legal: escândalo é um seio de fora, um vestido transparente, uma falta de calcinha. Nada de roubo, nada de desvio de dinheiro, nada de Mensalão. Aqui, o sujeito não é flagrado metendo a mão na grana, superfaturando material ferroviário ou desviando a merenda escolar: aqui, o sujeito é flagrado passeando na praia, beijando a esposa ou a namorada, levando os filhos ao parque. Delícia!

1 - Aos 60, Zezé Polessa usa biquíni estampado para banho de mar
2 - Natalie Portman adere ao big bob
3 - Rafa Justus visita Projeto Tamar
4 - Ben Affleck leva as filhas para tomar sorvete
5 - Grazzi Massafera e Cauã Reymond almoçam juntos
6 - Leonardo DiCaprio almoça com um amigo em restaurante deNova York
7 - Kiko Pissolato curte jantar em clima romântico com a esposa
8 - Juliana Paes deixa filho com o pai e cai na night
9 - Katy Perry guarda mecha de cabelo de Taylor Swift, ex-namorada de John Mayer
10 - Paula Fernandes malha de madrugada
11 - Mãe de Kelly Clarkson não foi ao casamento
12 - Anitta realiza sonho do primo de Patrícia Poeta
13 - Kanye West vê foto sexy de Kim
14 - Neymar deixa o bigode crescer
15 - Fã gasta US$ 100 mil em cirurgia para parecer com Justin Bieber
16 - Aryane Steinkopf e Beto Malfacini curtem praia carioca
17 - Lindsay Lohan é flagrada com garrafa de vinho, mas nega ter voltado a beber.
Agora come com farinha.


O grande título


Há algumas manchetes interessantes. E uma ótima. As apenas interessantes, com algum esforço do leitor, pode tornar-se compreensíveis:

Toquinho admite que segurou finalização em luta pré-expulsão

Em outras palavras, o cavalheiro diz que poderia ter ganho rapidamente, mas, por algum motivo, preferiu fazer com que a luta levasse mais tempo (e por isso foi afastado do UFC). A palavra "finalização" é sinônimo tucanado de "bater no adversário até que ele desmaie".

Outra manchete é engraçada mas também, com certa paciência, pode ser decifrada sem auxílio externo:

Gêmeos de mãe de 60 completam 1 ano

Mas que a primeira impressão é de que os filhos são gêmeos da mãe, isso é.

E há a manchete notável, por ensinar-nos algo novo, até agora ignorado pela maior parte da população - o que inclui este colunista:

Em caso de morte, a punibilidade é extinta e o caso, arquivado

E a gente acreditando que o falecido seria habilmente interrogado, até confessar, faria o juramento legal perante o juiz, seria condenado e cumpriria pena antes de baixar à última morada!


* Carlos Brickmann - carlos@brickmann.com.br - é Escritor, Jornalista e Consultor, diretor da Brickmann&Associados Comunicação - www.brickmann.com.br