terça-feira, 12 de julho de 2016

CONVERSA DE PISTA.
Por Wagner Gonzalez*


“E AGORA, O QUE QUE EU FAÇO?”

Excesso de informação ou falta de perspicácia? A atitude de Nico Rosberg durante o GP da Inglaterra no último fim de semana levantou dúvidas sérias sobre uma geração de pilotos cada vez mais dependentes da tecnologia. Ao notar problemas com a sétima marcha do câmbio do seu Mercedes, Rosberg mandou mensagem ao box no estilo “E agora, o que que eu faço?” Ao ser atendido por sua equipe — proibido pelo Art. 27.1 do regulamento esportivo da F-1, que diz que o piloto não pode receber nenhuma ajuda — foi penalizado em 10 segundos do seu tempo total de prova e perdeu para o holandês Max Verstappen o segundo lugar conquistado na pista. A Mercedes disse que vai recorrer da decisão dos comissários desportivos — um dos quais é o inglês e campeão mundial de 1992, Nigel Mansell!

Hamilton viaja nos braços da torcida inglesa após a vitória em Silverstone. Foto: Mercedes.

A atitude me fez lembrar episódios em que a solução foi encontrada pelos próprios pilotos sem usar o rádio ou consultar seus engenheiros. Ao final do GP da Inglaterra (ou GP da Grã-Bretanha para os puristas de plantão), Nico Rosberg não só viu sua vantagem sobre Lewis Hamilton cair para um único ponto, como também decepcionou muita gente ao demonstrar ser incapaz de tomar uma decisão por conta própria. Essa situação caberia como uma luva para o humor cáustico do saudoso Emilio Comino, peculiar preparador italiano radicado em São Paulo que chegou a disputar algumas provas nos anos 1960 com um folclórico VW 1200. Quando um piloto queixou-se que o volante do seu carro vibrava entre 90 km/h e 120 km/h, o italiano não titubeou em responder: “Entón anda abaixo de 90 ou acima de 120!…”

Uma das vitórias que contribuíram para consolidar o primeiro título mundial de Jim Clark foi conquistada no GP da França de 1963. Naquela época essa prova era disputada nas estradas de Reims, região mais conhecida pelo seu principal produto, o único vinho espumante do mundo que pode ser chamado de champagne. O traçado formado pelas estradas da região era de alta velocidade média, o que exigia bastante dos motores, como você pode ver neste vídeo que registra o percurso usado entre 1953 e 1972. A pole position nas corridas locais garantia um bom número de garrafas da uma preciosa mescla das uvas, geralmente Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier.

Jim Clark venceu o GP da França em 1963 desligando o motor do seu carro ao final das retas. Foto: servimg.com. 

No GP de 1963, o carro de Clark, um Lotus 25 equipado com motor Climax FWMV V-8, começou a superaquecer e perder rendimento. Sozinho no cockpit do pequeno monoposto, o escocês foi capaz de contornar o problema: perto do final das retas ele cortava a ignição e ao entrar nas curvas fazia o motor pegar no tranco e, em derrapagem controlada, provocava um movimento brusco do óleo do cárter, o que criava uma lubrificação forçada. Ao final de 2h10’54”3 Clark recebeu a bandeirada com mais de um minuto de vantagem sobre o sul-africano Tony Maggs (Cooper- Climax), equivalente a quase meia volta em um traçado que era completado em torno de 2’23”.

Na F-Ford 2000 Senna venceu em Snetterton sem freios traseiros. Foto: IAS.

Em 1982 Ayrton Senna venceu uma corrida de F-Ford 2000 em Snetterton apesar dos freios traseiros do seu Van Diemen RF82 não funcionarem e, anos mais tarde, em Interlagos, conseguiu vencer o GP do Brasil com um McLaren MP4/6 Honda mesmo com o câmbio travado em sexta marcha. São episódios de distintas épocas que colocam em discussão a dependência excessiva que os pilotos atuais têm dos seus engenheiros.

São também episódios que, por tabela, também questionam a eficácia da Federação Internacional do Automóvel (FIA), em querer controlar o teor da comunicação via rádio entre piloto e boxe. Soube-se dias após o GP da Áustria que a equipe Sahara Force India sabia que o carro de Sérgio Perez tinha problemas de freio; como não é permitido avisar o piloto de situações como essa, o mexicano acabou saindo da pista e batendo contra as barreiras de proteção na penúltima volta da prova.

Na Áustria Sérgio Pérez bateu porque não pode ser avisado que seu carro tinha problemas com os freios. Foto: Sahara Force India.

O problema de Rosberg não foi o único momento questionável da corrida em Silverstone. Como convém ao típico clima inglês, choveu antes da largada e o GP começou em pista molhada e os carros andando atrás do carro de segurança por cerca de 10 minutos. A diferença de velocidade para os F-1 era tamanha que se podia ver os monopostos andando com uma altura livre do solo bem superior à normal.

Mercedes foram novamente os mais rápidos, mas Red Bull está cada vez mais próxima dos Flechas de Prata. Foto: Mercedes.

Mais, por pouco não se vê um novo acidente entre dois Mercedes, desta vez envolvendo os carros de Lewis Hamilton e… o tal “Safety Car”! Se as precauções continuarem crescendo nesse nível não tardará muito para instalarem ar-condicionado e limpador de para-brisa num futuro próximo.

Max Verstappen conseguiu mais um pódio e caminha para ser primeiro piloto da Red Bull. Foto: RBR/Getty Images.

Se os Mercedes cruzaram a linha de chegada em primeiro e segundo, a Red Bull mostrou que está superior à Ferrari e acabou herdando o segundo lugar após a punição aplicada a Rosberg por sua tagarelice ao falar com o boxe. Veja aqui o resultado completo da prova e do campeonato. Se Max Verstappen voltou a subir no pódio, desta vez Kimi Räikkönen e Sebastian Vettel não foram capazes de colorir a briga pelas posições secundárias ao domínio da Mercedes.

Novos problemas de câmbio e atuação discreta na corrida sugerem que Vettel e a Ferrari parecem focar em 2017. Foto: Ferrari.

Mesmo que o calendário mal tenha tenha chegado à sua metade, o anúncio da renovação do contrato com o finlandês, para 2017, e o alemão andando atrás do seu companheiro de equipe, fazem suspeitar que a Scuderia já se preocupa mais com o carro do ano que vem, decisão já tornada pública pela equipe de Vijay Mallya.

Atuação combativa de Felipe Nasr pode abrir horizontes para 2017. Foto: Sauber.

Para os brasileiros, mais uma corrida apagada. Felipe Nasr, é verdade, aproveitou a pista molhada para compensar a falta de equipamento peculiar da Sauber 2016 e andou forte no início da prova. Felipe Massa andou entre os dez primeiros, mas uma vez ultrapassado por Vettel, parou para trocar pneus e acabou fora das posições pontuáveis.  O campeonato prossegue na semana que vem com o GP da Hungria, prova que regularmente apresenta resultados surpreendentes. Hoje e amanhã várias equipes fazem testes em Silverstone, sendo que amanhã o brasileiro Sérgio Sette Câmara pilota um carro da equipe Toro Rosso. Outras novidades são o francês Pierre Gasly (Red Bull), o italiano Santino Ferrucci (Haas) e o russo Nikita Masepin (Sahara Force India)

Domínio dos Corvettes DP na IMSA

Christian Fittipaldi e João Barbosa (carro nº 5) seguem líderes na categoria IMSA, na América do Norte. Foto: José Mário Dias.

Uma semana após obter os dois primeiros lugares em Watkins Glen, a equipe Action Express conquistou outra dobradinha no IMSA Weather Tech SportsCar Championship. Desta vez a vitória ficou para o Corvette DP de Eric Curran e Dane Cameron, enquanto e Christian Fittipaldi e João Barbosa ficaram em segundo na sétima etapa da temporada, disputada domingo em Clarington, no Canadá. Com esse resultado o brasileiro e o português mantêm a liderança no campeonato e ficam mais próximo de conseguir o terceiro título na categoria. O campeonato prossegue dia 7 de agosto em Elkhart Lake.









Wagner Gonzalez é jornalista especializado em automobilismo de competição, acompanhou mais de 350 grandes prêmios de F-1 em quase duas décadas vivendo na Europa. Lá, trabalhou para a BBC World Service, O Estado de S. Paulo, Sport Nippon, Telefe TV, Zero Hora, além de ter atuado na Comissão de Imprensa da FIAFale com o Wagner Gonzalez: wagner@beepress.com.br.

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